Qual é o papel do Designer Gráfico hoje?

     Que profissional é esse que se destina a dar forma e cor a uma idéia? Quem, em sã consciência, aceitaria a tarefa nada simples de tentar entender e traduzir necessidades alheias? Uma mutação de artista e psicólogo? Não precisamos ir tão longe, basta um pouco da boa e velha curiosidade infantil: "Como nascem as coisas?" Sim, tudo o que vemos não nasceu pronto. De um livro a uma marca, de uma embalagem a uma ilustração, passando por uma infinidade de coisas materiais ou imateriais, tudo necessita de um período de gestação. E é nessa lacuna que entra o Designer Gráfico.

 

    Ao olhar distante da maioria, é um técnico, mas só quando nos aproximamos é que ficam claras as referências pessoais, as soluções únicas baseadas em suas próprias experiências. Para alguns o desafio é se expressar, e quanto a expressar o que o outro quer dizer? Difícil? Nem tanto quando dispomos das ferramentas que o Designer Gráfico possui: a criatividade, a cultura e o conhecimento. "Então é só isso: parir as idéias e jogá-las no mundo?" Não! A informação comunicada deve ter uma atenção constante, sendo, e ao mesmo tempo, clara, direta e 100% nova para quem se destina.

 

   É exatamente esse é nosso santo papel, que cada um desempenha de maneira única: dar forma às idéias que satisfazem as necessidades do outro; e essa é nossa maravilhosa obrigação, que todos devemos executar da mesma forma: ser responsável por essas idéias, sempre atento à forma como elas transmitem o que deve ser comunicado.   

 

Minha vida em retrospectiva

    Se é para voltar no tempo, vamos fazer da forma correta. Vamos girar os ponteiros no sentido contrário, gerando três espaços de tempo decrescentes. Três? É um número legal, só isso... Entre os 35 e os 25, a voz do trabalho gritou. Não somente nas algemas das 8 horas de segunda a sexta, ou sábado, em casos lamentáveis, mas no geral. Nos empregos, por um tempo pratiquei o Tarzan Radical Style: pulava de galho em galho. Saí de um galho seguro no Rio e pousei num graveto em São Paulo, que não me aguentou. Na queda fui me segurando em um ou outro galho, emprego ou freela.

    Tentei o máximo que pude subir, mas só achei estabilidade ao retornar à selva carioca. No quesito experiência valeu, mas não repito a dose. As demandas familiares foram tensas. Eu e minha irmã passamos por momentos difíceis, com a notícia do câncer da minha mãe. Novidade negativa que virou dia-a-dia, tristeza e uma despedida no final... Mas não um adeus definitivo, é um “até breve”, de quem se despede nos braços dos filhos... Já as namoradas foram uma comédia à parte. Tiveram as que amei, só gostei, só fiquei e só stressei. Uma queria um marido, quando só queria ser namorado... A outra sonhava em ir pra Austrália, e eu sonhando com emprego estável, no Brasil mesmo, pode ser? Mulheres, ame-as ou ame-as.

 

    Dos 25 aos 15, as confusões amorosas continuam, mas esse é o tempo da grande transição. O universo particular se expande. Bye bye 2° grau, insegurança, timidez e adolescência – essa última continua presente até hoje... Mas ninguém precisa ficar sabendo disso... Digamos que é necessidade profissional, sabe como é, lidar com criação... O interesse pelas artes – que tinha tudo pra ser só hobby – vira ganha pão. A paixão pela música – que era para ser profissão – vira hobby. A resposta penosa para o “O que você quer ser quando crescer?” – “Publicitário!!” – foi recebida dois anos depois com a matrícula trancada por falta de grana... Mas não passava pela minha cabeça na época que poderia trabalhar para ajudar meus pais a pagar a faculdade...

    Em seguida surgiu a 1ª agência, comecei como redator. Agência tão pena que permitiu minhas aventuras no Incrível Reino da Direção de Arte, de onde nunca mais saí. A partir desse momento que surge a famosa dobradinha: trabalho de 09:00 às 18:00 e estudo das 19:00 às 22:00, para compensar o tempo perdido, e claro, com namoradas nos intervalos para alegrar e stressar. Foi nessa época que me deparei com o Tarzan Radical Style e curti. De uma agência pulei para outra, depois para uma gráfica, voltei para a redação publicitária num Departamento de Marketing, me equilibrei em mais uma gráfica e finalmente pulei para a direção de arte em uma agência, que em seguida foi adquirida por outra, onde fiquei por um bom tempo, até que pulei para o galho de São Paulo, mas isso já contei... Cada pulo foi motivado pela certeza ilusória de ficar milionário trabalhando...

 

    E finalmente chegamos nos “dos 15 aos zero anos”. A grande onda era “fazer 18” porque “fazer 18”, diziam, era legal, mas não disseram que depois dos 18 o tempo corre mais rápido. Foi no finalzinho dos 15 que comecei a pintar uma das paredes do meu quarto, depois de ficar por um bom tempo decorado com poster´s de rock . Eram desenhos loucos, psicodélicos, inspirados nas capas dos discos que comprava em sebos. E da parede fui pro teto, para a outra parede e para o teto novamente. Tudo embalado pela trilha sonora de épocas que não vivi, quanto mais hippie e punk melhor. Tempo bom de acordar tarde, tocar violão desafinado e ir pra escola. Mas antes dessas brincadeiras de um verdadeiro semi-adulto, a preferida eram as peças de montar. Lego? Não obrigado, sempre fui mais radical, o preferido era o Tente. Naves espaciais, carros, monstros e tudo o que podia ser imaginado eu fazia.

    Essa criança aqui passava muito tempo sentada no chão da sala rodeado de pecinhas que a mãe nunca via e sempre pisava, ou o cachorro engolia. Mais um passo para trás e surge um dos 1º desafios: a separação dos pais. “É melhor ser amigo separado do que ficar junto brigando”, disse o moleque de 11 anos para o pais que se despedia chorando. Não sei de onde tirei isso, mas falei. Antes desse impacto a vida era mais simples: escola e praia todos os dias nas férias. A paixão platônica pela prima 15 anos mais velha e o ódio mortal dos namorados. O skate como companheiro fiel mesmo nunca sendo utilizado para manobras radicais. Viagens para visitar as tias em São Luiz do Maranhão. Curiosidade pelo nascimento da irmã. Brincadeiras de rua, mudança de casa – do subúrbio para Zona Norte. Sempre um cachorro de estimação ao lado.  Convivência com os primos que gostavam de rock – anos depois escutei uma musica do Led Zeppelin e lembrei que era a mesma que ouviam quando tinha uns 4 ou 5 anos. Muitas perguntas: “Nos Países Baixos existe gente alta?” Carinho de mãe e pai. Choro. Dependência.

 

    Agora está ficando difícil de lembrar... Estou vendo um cara de avental branco... Acho que essa é a hora de receber o 1º tapinha da vida... Mas acho que vai valer a pena.